top of page
Buscar
  • Foto do escritorMatheus José

A árdua era dos jovens escritores


Matheus José Escritor e editor.


Livros são obras de artes atemporais que colocam em prova a imaginação de leitores. Escrever uma obra é trabalhar a arte, é lapidar uma pedra preciosa, é deixar para o mundo marcas de si. Os livros são capazes de emocionar, de instigar reflexão, de traduzir sentimentos e pensamentos, de mudar uma ideologia, uma atitude ou até mesmo uma vida. Como dizia o escritor russo Dostoiévski (1821-1881)¹, "somos o que lemos". Mas acredito que sejamos também o que escrevemos.

Os clássicos da literatura foram livros, em sua maioria, longos e de importância imensurável para o mundo. Alguns leem por gosto, outros leem por estudos, mas a constante em todos esses anos com os clássicos se dá pelo valor às obras e aos escritores que ainda vivem eternizados nas memórias dos literatos. Por muito tempo houve pré-moldes na literatura. Gêneros que se diferenciavam dos grandes escritores não eram considerado “bons escritos” e foi com a chegada da modernidade que houve mudanças.

Hoje, com internet, redes sociais e a rotina agitada da população, houve uma perda gradativa da leitura de textos longos e complexos. Frases de efeito ou um tuíte fazem mais sucessos do que obras clássicas. Mas, contra a correnteza do mundo líquido², surgem os novos escritores dessa geração, autores que perdem dias e noites, estudam suas referências e produzem diversos gêneros literários.

Com a chegada da “literatura de massa”, dividida em subgêneros como chic-Lit, new adult, thriller psicológico ou, até mesmo, crônicas, poesias, romances e contos modernos, surgiu uma acirrada discussão, principalmente no setor acadêmico, a qual afirma que essa literatura é um produto de mau gosto destinado a um público semiculto ou até mesmo inculto. Mas com quais fundamentos essa afirmação se sustenta?

Países como EUA, Canadá, Inglaterra, etc, estão evoluindo em seus conceitos quanto aos jovens escritores, aceitando novos gêneros como novo produto de uma nova geração. Podemos analisar esse crescimento tendo como exemplo à britânica J.K. Rowling, autora da série Harry Potter que já vendeu mais de 650 milhões de exemplares ou os autores americanos Dan Brown, Julia Quinn e Nicholas Sparks que juntos, já venderam quase 800 milhões de livros.

Já em outros países, como o Brasil, escritores experientes se consideram portadores do “culto saber” e o meio acadêmico obtém a “suma razão”, assim, fomentando uma caça às bruxas com os novos autores, apoiando a eliminação desses do Hall dos Escritores. Como consequência desta ignorância e preconceito com o novo, amargamos péssimas colocações de livros vendidos no mercado mundial.

Análogo a isso, podemos ver com facilidade empresas e órgãos culturais chamarem sempre as mesmas figuras. À margem das programações e convites, ficam os jovens escritores que nem sequer são vistos como artistas. Se voltarmos a alguns anos atrás e refletirmos nas transformações que vivemos, podemos ver que vários grupos literários, considerados loucos e

incultos, que lutaram pela visibilidade, mas só depois de muito tempo (muitos depois da morte), foram reconhecidos como grandes artistas. Mas será que precisamos novamente viver hipocrisias como essas?



Produtores culturais e órgãos fomentadores da cultura estão pecando gravemente com a nova geração. Valorizam mais uma variável literária do que o gosto pela leitura. Hoje, com a literatura de massa, milhares de jovens leem com amor, se reconhecem em gêneros que abrangem ficção, não ficção, críticas, entre outros. Uma pesquisa feita em 2015 pelo IBOPE afirma que o número de jovens leitores no Brasil aumentou 16% em quatro anos e que o grande motivo deste crescimento foi o “boom” da Literatura Juvenil moderna. Afinal, como disse Zéraffa (1918-1985)³, não importa para onde o leitor está evadindo, mas é certamente para a liberdade: determinista ou anti-determinista, o romance organiza, harmoniza, realiza o desejo, o prazer e, sobretudo, a imaginação.

29 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page